Tudo sobre o amor — bell hooks

Alessandra Martins
5 min readFeb 14, 2024

Em seu último livro, “Tudo sobre o amor”, bell hooks apresenta de maneira bastante didática a definição do que é o amor, explorando tanto o ato de amar quanto o de ser amado. Ela que é autora de grandes obras, como “E eu não sou uma mulher”, “Ensinando a transgredir — Educação como prática da liberdade” e “Olhares Negros — Raça e representação”, a autora faleceu aos 69 anos de idade, vítima de insuficiência renal, em 2021. No entanto, mesmo após sua partida, conseguiu encerrar brilhantemente sua passagem neste plano terrestre, deixando-nos novamente ensinamentos e reflexões em mais uma obra-prima. “Tudo sobre amor” é dividido em treze capítulos, cada um abordando experiências ressignificadas que refletem as perspectivas de bell hooks sobre o amor.

1 — Clareza: pôr o amor em palavras

“A afeição é apenas um dos ingredientes do amor. Para amar verdadeiramente, devemos aprender a misturar vários ingredientes — carinho, afeição, reconhecimento, respeito, compromisso e confiança, assim como honestidade e comunicação aberta.”

2 — Justiça: lições de amor na infância

“O amor é o que o amor faz, e é nossa responsabilidade dar amor às crianças. Quando as amamos, reconhecemos com nossas próprias ações que elas não são propriedades, propriedades, que têm direitos — os quais nós respeitamos e garantimos. Sem justiça, não pode haver amor.?

3 — Honestidade: seja verdadeira com o amor

“A confiança é o fundamento da intimidade. Quando as mentiras erodem a confiança, conexões verdadeiras não podem se estabelecer.

As mentiras podem fazer as pessoas se sentirem melhor, mas não nos ajudam a conhecer o amor.”

4 — Compromisso: que o amor seja o amor-próprio

“Amor-próprio é a base de nossa prática amorosa. Sem ele, nossos outros esforços amorosos falham. Ao dar amor a nós mesmos, concedemos ao nosso ser interior a oportunidade de ter o amor incondicional que talvez tenhamos sempre desejado receber de outra pessoa.”

5 — Espiritualidade: o amor divino

“Viver a vida em contato com espíritos divinos nos permite ver a luz do amor em todos os seres vivos.

Todo despertar para o amor é um despertar espiritual.”

6 — Valores: viver segundo uma ética amorosa

“Aprender como encarar nossos medos é uma das formas de abraçar o amor. Talvez nosso medo não vá embora, mas já não ficará no caminho. Aqueles de nós que já escolheram adotar uma ética amorosa, permitindo que ela governe e oriente o modo como pensamos e agimos, sabemos que, ao deixar nossa luz brilhar, atraímos e somos atraídos por outras pessoas que também mantêm sua chama acesa.”

7 — Ganância: simplesmente ame

“Em um mundo sem amor, o desejo de conexão pode ser substituído pelo desejo de possuir. Ao passo que as necessidades emocionais são difíceis — frequentemente, impossíveis — de satisfazer, os desejos materiais são mais fáceis de atender.”

8 — Comunidade: uma comunhão amorosa

“Quando vemos o amor como o desejo de alimentar o próprio crescimento espiritual ou o de alguém, demonstrado por gestos de carinho, respeito, conhecimento e tomada de responsabilidade, a base de todo o amor em nossa vida é a mesma.”

9 — Reciprocidade: o coração do amor

“Escutar não significa simplesmente ouvir outras vozes quando elas falam conosco, mas aprender a ouvir a voz de nosso próprio coração, assim como nossa voz interior.”

10 — Romance: o doce amor

“ O amor verdadeiro de fato tem o poder de redimir, mas só se tivermos prontos para a redenção. O amor nos salva apenas se quisermos ser salvos. Muitas pessoas que buscam o amor foram ensinadas na infância a se sentirem indignas, a sentir que ninguém poderia amá-las como realmente eram, e construíram um falso self.”

11 — Perda: amar na vida e na morte

“Amar faz isso. O amor nos empodera para viver plenamente e morrer bem. Então, a morte se torna não o fim da vida, mas uma parte dela.

Muitas pessoas tratam a vida com desespero porque percebem que não viveram a vida como queriam.”

12 — Cura: o amor redentor

“ Não importa o que tenha acontecido em nosso passado: quando abrimos nosso coração para o amor, podemos viver como se tivéssemos nascido de novo, sem esquecer o passado, mas vendo-o de uma forma nova, deixando que ele viva dentro de nós de uma nova maneira. Seguimos adiante com a percepção renovada de que o já passou não pode mais nos machucar”

13 — Destino: quando os anjos falam de amor

“Os anjos nos trazem o conhecimento de como devemos prosseguir no caminho do amor e do bem-estar. Vindo a nós tanto em forma humana quanto em puro espírito, eles nos guiam, instruem e protegem.”

bell hooks nos ensina e nos faz lembrar a importância do amor em uma sociedade que esqueceu ou que nunca aprendeu o verdadeiro significado do amor. A autora apresenta sua perspectiva sobre diálogo, justiça, espiritualidade, compromisso, valores, autoestima sociedade, morte e perdão, no qual, consegue desconstruir a ideia do amor que estamos acostumados e nos apresenta faces que antes ignorávamos ou desconhecíamos. Ela afirma que devemos encarar o amor como ação, pois a sociedade está acostumada fantasiar, idealizar, romantizar demais o amor. Entretanto, a partir do momento que começarmos pensar no amor como uma ação, em vez de um sentimento, assumiremos automaticamente responsabilidade e comprometimento.

bell hooks diz que o amor verdadeiro é incondicional, mas, para desabrochar verdadeiramente demanda um compromisso constante com a luta e as transformações construtivas. E complementa dizendo que a pulsação do amor verdadeiro é a disposição de refletir sobre as próprias ações, processar e comunicar essa reflexão à pessoa amada.

No decorrer dos seus treze capítulos, bell hooks ressalta e vai passando por diversas esferas do amor, transitando entre a relação dos genitores e suas proles, a relação conjugal, a relação em social e relação com nós mesmos.

Se soubéssemos a definição devida do amor, não nos submeteríamos nem aceitaríamos relações destrutivas fantasiadas de cuidado, preocupação, correção e proteção. Muitos de nós, já vivenciou ou ainda vivem relações que ao invés de nos fazer bem, só nos despertam tristeza e desilusão. São os clássicos relacionamentos abusivos, as relações tóxicas, que muitas vezes se inicia na infância. No entanto, pessoas que deveriam oferecer bem-estar, oferecem castigo e punições descabidas. Desde modo, transportamos para a vida adulta o abuso que foi naturalizado na infância. bell hooks destaca que a maioria das crianças abusadas física e/ou psicologicamente foi ensinada pelos adultos responsáveis que amor pode coexistir com abuso. E, em casos extremos, que o abuso é uma expressão de amor. E isso nos acompanha na vida adulta quando naturalizamos desrespeito e maus-tratos de pessoas que dizem nos amar, como amigos e companheiros, pois são percepções que foram moldadas na infância. Conclui dizendo que o amor verdadeiro é a base de nosso envolvimento com nós mesmos, com a família, com os amigos, com companheiros, com todos que escolhemos amar.

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Alessandra Martins

Alessandra Martins nasceu em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Hoje, vive entre Estados Unidos e Brasil. É pesquisadora, escritora, poeta, ativista social.